Eduardo Ritter – jornalista, mestrando em Comuniação pela PUCRS, bolsista parcial da Capes e integrante do GEPETEC.
“Será que o psicanalista que fica no divã, ouvindo a mulher que enfrenta uma crise no casamento, utiliza esse conhecimento no seu relacionamento, com a sua esposa? Portanto, acho que o jornalismo nunca atrapalhou nem atrapalhará a minha produção literária”. Essa frase de Felipe Pena, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), foi uma das tantas que encantaram o público que acompanhou a mesa redonda “Jornalistas ou Escritores?” durante o 32° Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação realizado entre os dias 4 e 7 de setembro na Universidade Positivo (UP), em Curitiba. Aliás, para os participantes ficou a dúvida: o que foi mais encantador: as palestras, debates e discussões realizadas durante o evento ou a beleza do campus da UP? Confesso que me encantei com o lago, os cisnes, o belíssimo teatro, no entanto, ainda fico com o conteúdo...
Mas voltando à mesa sobre Jornalismo e Literatura, além da fala de Felipe Pena, os participantes também puderam beber um pouco mais da fonte do presidente da Intercom e professor da PUCRS, Antonio Hohlfeldt, e da professora da UFRJ Cristiane Costa, além do editor do jornal Rascunho, que atuou como mediador da mesa coordenada pela professora Elza Oliveira (UP). “A chance que o jornal tem de sobreviver é a volta da grande reportagem”, avaliou Hohlfeldt, explicando que quando o leitor quer uma informação rápida ele a encontra disponível na internet. No entanto, todos na mesa concordaram que mesmo para escrever uma nota de 15 linhas o jornalista precisa ter um texto excelente.
Rogério Pereira, por exemplo, recordou dos tempos em que foi editor do jornal Gazeta do Povo, o maior do Paraná: “A redação era formada basicamente por jovens e quando eu pedia para escreverem uma matéria sobre uma partida de futebol sem dizer de cara qual foi o placar, eles não conseguiam e não se conta de que o sujeito que vai ler o jornal já sabe quanto foi o jogo. Nesse caso o jornalista tem que fugir do lugar-comum”, salientou. Ouso acrescentar aqui, que além disso, o placar dos jogos sempre estão disponíveis nas tabelas e nos gráficos colocados nas páginas de esporte de todos os grandes jornais após cada rodada. “Hoje eu não consigo mais viver em uma redação de jornal diário”, disse Rogério, acrescentando que, apesar disso, aprendeu muito do que sabe sobre a prática jornalística na sua passagem pela Gazeta do Povo.
Já Cristiane Costa, autora de Pena de Aluguel, um livro referência para os estudiosos do tema Jornalismo e Literatura, destacou que o lide não precisa ser chato e mecânico, salientando a necessidade que o jornalista e o escritor têm de seduzir o leitor. Quando o debate foi se encaminhando para o tema “sedução”, Felipe Pena, que em março estará lançando o romance O marido perfeito mora ao lado, comparou o ato de escrever ao de sedução em um relacionamento. “O jornalista e o escritor devem seduzir o leitor a cada texto, a cada linha, da mesma forma que o homem também deveria seduzir a sua mulher todos os dias, principalmente após o casamento”. Após essa comparação, ele completou bem humorado: “Vai ver por isso eu sou solteiro e um escritor desconhecido...”.
E em meio a uma conversa um tanto informal, bem humorada, mas muito rica em conteúdo, foram debatidos outros temas relacionados a Jornalismo e Literatura, como a utilização do marketing literário, excelentes contextualizações históricas do surgimento e desenvolvimento da literatura, que sempre andou de mãos dadas com o jornalismo, entre tantos outros pontos.
Encerro o texto, fazendo a inversão do que aconteceu no debate, voltando à primeira a primeira fala de Felipe Pena na mesa: “Muitos escritores contemporâneos estão esquecendo do principal: a história. Ou seja, existe uma preocupação em escrever um texto bonito esteticamente, com sacadas ‘geniais’, mas sem história. Todo mundo pensa que é a reencarnação de James Joyce. Mas quem vai querer ler algo que não tem história? O mesmo vale para o jornalismo”. E em certos casos, vale também para certos textos acadêmicos incompreensíveis. Ou, recorrendo a Michel Maffesoli, para os “autistas intelectuais”.
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