domingo, 28 de junho de 2009

"Todas as notícias do rádio informativo são retóricas”

Foto: Fernando Cibelli de Castro


Klöckner em entrevista ao GEPETEC

Por Fábio Rausch – Jornalista, mestrando em Comunicação Social pela Famecos-PUCRS e membro do GEPETEC

Confiante no caráter retórico das notícias veiculadas nas rádios que classifica como informativas, o jornalista e professor da Faculdade de Comunicação Social da PUCRS, Luciano Klöckner, acredita que, inclusive, na previsão do tempo existem aspectos de convencimento. “Só o fato de informar se vai chover ou fazer sol já implica alterar a rotina do cidadão, pois ele acaba escolhendo outras roupas para vestir, por exemplo”. Na palestra promovida pelo GEPETEC, no último dia 8 de junho, na Famecos, o professor também comentou sobre as metodologias utilizadas no seu trabalho de pós-doutorado, que está em vias de concluir. Klöckner aproveitou, ainda, para estimular profissionais de veículos de comunicação a se interessarem pela pesquisa acadêmica. Citou como exemplo o olhar mais crítico que formulou com relação ao programa radiofônico “O Repórter Esso”, que o motivou a lançar o livro “O Repórter Esso – A síntese radiofônica mundial que fez história”, pela editora AGE, em 2008. Depois da sua palestra, ele concedeu esta entrevista:

Fábio Rausch – Qual é a importância de se fazer um curso de pós-graduação, no caso daqueles jornalistas que trabalham em veículos de comunicação?

Luciano Klöckner – Os profissionais de veículos demonstram muito interesse em se aprofundar em questões de pesquisa. Foi, casualmente, o que eu imaginei para mim. Trabalhei em várias emissoras de rádio: a Difusora (hoje é a Bandeirantes), a Gaúcha, a Guaíba (pouco tempo). Depois de acumular essa experiência, passou a me interessar a questão do aprofundamento da pesquisa. Primeiramente, trabalhei com o “Repórter Esso”, um dos meus objetos de pesquisa, que, depois, se transformou num grande objeto. Agora estou fazendo pós-doutorado e comparando duas rádios informativas. É uma questão que me interessa bastante. Estou analisando a presença da retórica nas notícias divulgadas. No “Repórter Esso”, analisei a questão da ideologia, da globalização, como esta notícia era praticada no Brasil. Ela começou nos Estados Unidos, com o formato atual do lead. É a notícia com sujeito, verbo e complemento. Hoje, eu procuro estudar, um pouco mais, o conteúdo, ou seja, se essa notícia, de alguma maneira, exerce todo o potencial retórico, que é, justamente, a questão da persuasão e do convencimento. Desse modo, tento alcançar avanços em relação aos estudos já realizados com o “Repórter Esso”.

Rausch – Dos resultados que você alcançou, quais podem contribuir para quem estuda, especificamente, o rádio, tanto na graduação quanto na pós-graduação?

Klöckner – No caso do “Repórter Esso”, lancei um livro de reinterpretações, cujo trabalho foi facilitado pela metodologia da hermenêutica de profundidade, que indica as formas de se reinterpretar um objeto. Neste caso, havia a idéia inicial baseada no fato de todo mundo achar o “Repórter Esso” o máximo. Esse noticiário nunca foi questionado. Eu também sempre me baseava naquele ícone do programa. Por isso, fiz uma reinterpretação das notícias veiculadas na época, tendo comparações teóricas e metodológicas. No caso de agora, da retórica propriamente dita, estou utilizando um quadro metodológico criado por mim, para aplicar nessas notícias e tentar ver quais apresentam a retórica. Tenho notado que, no caso das rádios informativas, que são referência para a informação, o entretenimento é eventual. A CBN não toca música, mas a TSF, de Portugal, sim. As duas fazem esporte. Ou seja, acabam realizando entretenimento. Não é notícia pura, se levarmos em conta a forma definida e convencionada pelo Juarez Bahia e pelo Nelson Traquina. Então, dentro do rádio informativo, vejo que todas as espécies de notícias dos programas são retóricas. Elas procuram convencer de alguma maneira. Essas são as primeiras conclusões do trabalho em andamento, que já está em fase de redação final.

Rausch – Você destacou, ao longo da sua palestra, que, às vezes, uma questão banal como a previsão do tempo já apresenta, mesmo que implicitamente, algum fator retórico de persuasão e convencimento. Como se dá a percepção dessas minúcias, que, muitas vezes, na publicidade, são classificadas de acordo com critérios de linguagem subliminar?

Klöckner – É justamente isso. O professor Eduardo Meditsch me ajudou muito nesse trabalho, porque, inclusive, me serviu como base a pesquisa que ele realizou em Portugal, anos atrás, usando, também, a TSF. No meu caso, foi uma pura coincidência, porque eu quase optei por outra emissora de rádio. Mas essa questão do conteúdo, muitas vezes, é como tu disseste. Às vezes, a gente não percebe mesmo. No quadro metodológico, existem níveis, com escalas. Neste caso, preferi utilizar um conceito, um grau de medição. Eu mesmo criei este método, que faz a medição do conteúdo retórico da seguinte forma: fraco; nem fraco nem forte; e muito forte. Nos primeiros testes, a metodologia funcionou bem. No futuro, talvez, poderão ser necessárias algumas adaptações nas escalas que eu determinei e nos estudos, porque a retórica não é estudada em um ano ou dois. Pelo contrário, faz-se necessário estudá-la bastante, para conseguir uma boa compreensão.

Rausch – Qual é o mérito das diferenças entre a rádio que você considerou como sendo essencialmente informativa e as de talking news?

Klöckner – A rádio talking news é a que apresenta muitas notícias e entrevistas. Se tu fores comparar a Rádio Gaúcha com a CBN, no perfil de emissoras como a última, tu vais notar blocos muito definidos: a cada 15 minutos ou a cada meia hora, a programação se repete, em rodízio informações. Há situação do trânsito, previsão do tempo, pequena entrevista, o repórter dando uma informação. Então, essa programação acontece em fluxo contínuo. Dessa forma, o ouvinte pensa: “Que sorte! Peguei a previsão do tempo justamente quando eu queria”. Mas não é coincidência. Faz parte da programação essa linha repetitiva. Em alguns horários, o rodízio informativo chega a ser ainda mais rápido. Sabendo desses detalhes, as rádios de referência informativa fazem trabalhos assim com muita freqüência.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Érico Verissimo e Jornalismo: a hipótese da Espiral do Silêncio em Incidente em Antares

Por Eduardo Ritter-integrante do GEPETEC

Resumo: Este estudo trabalha em três perspectivas: a utilização de personagens-jornalistas nos romances de Erico Verissimo, a significativa atuação desse escritor no jornalismo e a hipótese da Espiral do Silêncio na obra Incidente em Antares. Acreditamos que esses três itens estão interligados. Como escritor, Erico Verissimo utiliza 24 personagens-jornalistas em seus 13 romances. O resultado disso é a forma como ele exemplifica a influência da mídia na sociedade, que fica clara em Incidente em Antares, obra que conta com muitas características mencionadas na hipótese da Espiral do Silêncio.
Palavras-chave: Jornalismo, Literatura, História, Comunicação, Espiral do Silêncio

Para ler na íntegra clique aqui

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Jornal A Federação, o difusor da propaganda republicana gaúcha

Fábio Rausch
Antonio Hohlfeldt
Resumo
Na próxima sexta-feira, 26 de junho, o integrante do GEPETEC, Fabio Rausch apresenta este trabalho na reunião do grupo marcada para as 19h, na sala 316 do PPGCOM da PUC-RS (Faculdade dos Meios de Comunicação Social). Abaixo o resumo com link para o texto completo.


Este trabalho consiste em um estudo acerca da propaganda política praticada na imprensa do Partido Republicano Rio-Grandense, através do jornal A Federação. A prática publicística remonta às primeiras experiências desenvolvidas pelo jornalismo inglês e o francês, no século XVIII, em que personalidades sociais lançam mão de jornais ou revistas, para difundir programas ideológicos de interesse, primeiro, de grupos partidários, depois, de partidos constituídos, de modo a influenciar a opinião pública, ou até conquistar o próprio poder vigente. O publicista Júlio de Castilhos vai denunciar os “sofismas liberais”, então apregoados pelos partidos do Império de D. Pedro II, visando instalar a república.

Para download PDF

segunda-feira, 15 de junho de 2009

GPJOR PROMOVE SEMINÁRIO ABERTO DE JORNALISMO

O GPJor – Grupo de Pesquisa Estudos em Jornalismo, vinculado à linha de pesquisa Linguagem e Práticas Jornalísticas, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da UNISINOS, promove no dia 23 de junho o 3º Seminário Aberto de Jornalismo. Sob o tema ‘Jornalismo e Cidadania: tecnologias, conteúdos e atores’, o evento se propõe a debater questões que tangenciam a mobilização por políticas públicas de comunicação que em dezembro culminará na realização da Confecom – Conferência Nacional de Comunicação.
A iniciativa contempla a abordagem ampla do tema, desde o uso da mídia por movimentos e organizações sociais, passando pelo debate acerca das produções colaborativas que chamam para um jornalismo participativo. Nesta etapa, o Seminário Aberto de Jornalismo contará com a participação dos mestrandos do PPGCC/UNISINOS Daniel Cassol, Grace Bender Azambuja, Maria Joana Chaise e Vera Martins, todos integrantes do GPJor, cujas pesquisas tratam destas questões.
Também será contemplado o debate sobre 'Relações entre pesquisa acadêmica e movimentos sociais', pela professora Christa Berger, integrante do Grupo, e a discussão 'Sociedade Civil e a Conferência Nacional de Comunicação', a cargo do professor da UNISINOS Pedro Osório, secretário executivo do FNDC – Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação. Por meio deste evento, o GPJor se propõe ao debate de temas essenciais da comunicação, que serão ampliados na Conferência Nacional da área.

Inscrições
O 3º Seminário Aberto de Jornalismo será realizado na Sala 3A108, na UNISINOS, a partir das 14h. A participação vale horas complementares para os estudantes de Graduação da UNISINOS. Inscrições na Central de Relacionamento da UNISINOS. Informações pelo e-mail estudosemjornalismo@gmail..com ou no blog http://gpestudosemjornalismo.blogspot.com

sábado, 13 de junho de 2009

Uma pesquisa estimulante

Quando comecei a trabalhar em rádio, em março de 2002, ao mesmo tempo em que iniciava a graduação em Jornalismo, lembro que um colega emprestou-me o livro A Notícia na Rádio Gaúcha, do então coordenador de Jornalismo da emissora e mestrando, Luciano Klöckner. Recordo que foi por meio desse livro que comecei a desenvolver minha paixão por rádio. No entanto, após minha vida profissional e acadêmica tomar outros rumos (com dedicação mais voltada para o jornal impresso e para a Literatura), sete anos depois, tive a oportunidade de acompanhar o agora pós-doutorando professor Luciano falar não só sobre a sua dissertação de mestrado, que na época estava em andamento, mas também da sua tese de doutorado e de seu trabalho atual no pós-doutorado, durante palestra promovida pelo GEPETEC, no dia 8.
Acompanhei a fala do professor com a mesma atenção e entusiasmo com que li o livro O Repórter Esso, resultado de sua tese de doutorado e de uma pesquisa que durou mais de 10 anos. Considerei a fala dele estimulante para todos, principalmente para aqueles que, como eu, estão ingressando no mestrado agora. A gente entra com mil idéias, cheios de gás, mas assim que vamos trabalhando nas disciplinas e na dissertação, também vemos o tempo passar, e num piscar de olhos o semestre está terminando, e ficamos com a sensação de que apesar de todo o esforço, ainda ficou muito por fazer. E eu senti isso também na fala do professor Luciano, que está no meio acadêmico há bastante tempo, que já pesquisou muito, mas que deixou claro que ainda tem muito para ser pesquisado.
Além disso, fiquei com a impressão de que para aqueles que foram na palestra, tudo o que foi dito foi muito enriquecedor. E para aqueles que não puderam comparecer, fica a sugestão de leitura: O Repórter Esso – A síntese Radiofônica Mundial que fez história, do professor Dr. Luciano Klöckner.
Eduardo Ritter – jornalista, mestrando e integrante do GEPETEC.

Palestra Internacional no PPGCOM da PUC-RS

O Grupo de Estudos sobre Imaginário, Sociedade e Cultura e o PPGCom da Famecos trazem quinta-feira, dia 30, Alan West-Durán, professor de cultura e literatura latino-americana e caribenha da Universidade de Northeastern na cidade de Boston. Nascido em Cuba e criado em Porto Rico, West-Durán sempre demonstrou em sua trajetória como pesquisador, poeta, tradutor e crítico sua origem caribenha com diversos livros sobre a cultura latina. Radicado nos Estados Unidos, com doutorado em línguas e literatura latino-americana e brasileira, o professor versará sobre sua atual pesquisa que tem como tema a religião afro-cubana Regla de Ocho, e o uso dos espaços na transformação do cotidiano para o sagrado.

A morte do jornalismo televisivo: uma análise da cobertura do Jornal Nacional ao caso do vôo 2054 da TAM


Por Michele Negrini

Resumo


Este artigo tem como objetivo analisar o tratamento dado à morte na cobertura do telejornal brasileiro Jornal Nacional, apresentado pela Rede Globo de Televisão, ao acidente com o vôo 3054 da TAM, ocorrido em São Paulo (Brasil), no dia 17 de julho de 2007. No acidente morreram cerca de 200 pessoas. Também observamos como o JN abordou questões ligadas à tragédia, como a ênfase às dimensões destruidoras do acidente, a exaltação das emoções e do sofrimento dos parentes das vítimas e da sociedade, a reação das testemunhas do ocorrido, o acompanhamento do processo de reconhecimento dos corpos das vítimas e possíveis explicações para a ocorrência do caso. Tomamos como objeto de estudos a edição do telejornal que foi ao ar no dia 18 de julho de 2007. O estudo tem como bases teóricas reflexões sobre o campo jornalístico, que são embasadas por autores como Pierre Bourdieu e Nelson Traquina, e discussões sobre acontecimento jornalístico, com bases em Adriane Duarte Rodrigues. Apresentamos, também, reflexões sobre a morte e sobre a sua presença contundente nos meios de comunicação. Nelson Traquina aponta que a morte é um valor-notícia importante para o jornalismo. A morte é um tema com diversas interpretações, as quais estão muito ligadas com cada cultura. Como a morte é um tema bastante polêmico, pode-se dizer que a cobertura do Jornal Nacional ao acidente com o avião da TAM se deu de forma simplista, sem nenhuma preocupação com os espectadores e com as famílias das vítimas que foram expostas no ar.

TV X Internet na visão de Dominique Wolton


A análise é convertida em polêmica quando entra em cena o pensamento crítico de Dominique Wolton, primeiramente em “Internet e depois” (WOLTON, Dominque -Sulina 2007) e num segundo momento quando o objeto de análise é “É preciso Salvar a Comunicação” (WOLTON, Dominque - Paulus 2006). O objeto de análise do pensador francês está sempre vinculado às questões globais da comunicação, suas variáveis sociológicas e as implicações tecnológicas. Tomemos como ponto de partida para o diagnóstico, concebido por Wolton, a partir de “Internet e Depois”.
“A comunicação é o cerne de modernidade, isto é, inseparável deste lento movimento de emancipação do indivíduo...” (WOLTON – Sulina 2007, p 10) primeiro aspecto: ele pontua que sua pesquisa visa diferenciar objetivamente as chamadas mídias generalistas ou tradicionais (a TV e o rádio) das novas tecnologias, notadamente, a convergência tecnológica, a qual culminou com o surgimento da web. Para Wolton, sua pesquisa está calcada em uma Teoria da Comunicação em que os aspectos sociais devem necessariamente sobrepujar o paradigma tecnológico, que para ele, Wolron, não tem
como funcionar como carro-chefe na superação das mazelas sociais.
Nesse sentido, Wolton considera inoportuna e equivocada a corrente de pensamento que coloca os avanços tecnológicos protagonizados pelas novas formas de produção de informação por meio da fusão da informática com a telecomunicação, notadamente a internet, como elemento-chave dos avanços econômicos e sociais. Para tanto, Wolton lança o desafio em favor de uma compreensão sobre o que ele define como “estatuto da comunicação”. A primeira provocação é a seguinte: se a comunicação é um tema antigo da humanidade, à luz do progresso tecnológico, a explosão das técnicas modificou a natureza desse estatuto.
O avanço tecnológico e sua capacidade de transformar as regras da comunicação inquieta ainda mais Wolton. Então ele relaciona uma série de questionamentos: a evolução tecnológica é capaz de revolucionar o conteúdo da informação e da comunicação da mesma forma como ocorreu na invenção dos tipos móveis e da imprensa?
Se o estatuto da comunicação como aponta Wolton é a maneira como os homens se comunicam e se a comunicação se entrelaça, com os demais processos de desenvolvimento, ele repele ou tenta desencorajar a tese de que a mola propulsora do processo social seja a tecnologia. Qualifica de ‘tecnicistas’ aqueles que comungam dessa visão e duvida do poder e potência das tecnologias para produzir alterações nesse processo contínuo, o qual demarca o surgimento da modernidade. Outra provocação; a internet é superior a televisão?
Aliás, esse é o objeto principal diagnosticado em “Internet e Depois”. A internet é uma mídia de massa? Wolton responde que não. Esse é o campo do rádio e da TV, das denominadas mídias generalistas. A convergência tecnológica permite que o computador, faça às vezes do jornal, da TV, do rádio, da biblioteca. Substitui o telefone. Porém cria um paradoxo ao transformar o receptor em portador da mensagem, no debulhador da informação que será agora acessada na troca de endereços de URL, de FTP e protocolo IP. A troca de papéis entre codificador e decodificador parece igualmente produzir inquietação. A formatação desse debate incomoda Wolton.
Ele adverte que existe uma opinião do conhecimento controlada por três segmentos: os empreendedores, os jornalistas e os políticos. Com isso, surge um desafio teórico no sentido desmanchar esse oligopólio, pois nenhum desses campos está interessado em conduzir uma reflexão sobre a comunicação a partir de uma lógica do conhecimento (WOLTON-2007, p.13).
Como inexiste espaço para os demais atores sociais, Wolton provoca em tom de apelo para que não tentem fazer os pesquisadores sociais pensarem a partir da lógica dos empresários. Esse é um ponto fundamental. Para Wolton, a academia deve promover o debate de maneira independente. “Em todo caso que não se peça para um pesquisador pensar como um empresário, político ou jornalista”.
Wolton não teme ser qualificado como integrante da vertente de tecnofóbica ao reconhecer que no atual momento do debate acadêmico provavelmente esteja reunido numa corrente minoritária. Aquela que afirma que a tecnologia não é o elemento essencial da comunicação. O alicerce da comunicação em Wolton são as características culturais e os aspectos sociais. A tecnologia, sobretudo a de última geração, é coadjuvante do conhecimento.
Com efeito, ele sinaliza os três objetivos principais contidos em “Internet e Depois”: contribuir para uma revalorização da Teoria da Comunicação; defender a televisão como mídia essencial na preservação da democracia; acionar o alarme para a Europa, “Berço da teoria da comunicação” e para ele no momento, atravessando uma crise de identidade, a qual conduz o Velho Continente para a trilha do modelo comunicacional, produzido pela indústria cultural montada nos Estados Unidos. Wolton defende a regulamentação da informação e da comunicação. Afirma não ser possível construir um espaço democrático para a comunicação de massa por meio de uma desregulamentação completa do sistema. Na sua visão, a comunicação sem intermediários do presente pode ser o combustível de conflitos do futuro. A Europa será assimilada pelos Estados Unidos, se não houver uma ruptura com relação ao rumo agora dotado. “Não há dúvida de que, amanhã, a comunicação ‘mundializada’ será fator de conflitos, como o foram as matérias-primas, as colônias e o petróleo, desde cento e cinqüenta anos atrás”. (WOLTON-2007, p. 20).
Diante do exposto o estatuto da comunicação pressupõe uma ruptura com a idéia de desregulamentação e impõe a contrapartida de uma regulamentação contra “a tirania das novas tecnologias”. Em outras palavras Wolton, critica aqueles que fazem uso de argumentos tecnológicos e desprezam a importância da comunicação como ciência social aplicada.
Ele pontua: “Até agora, aliás, a grande maioria das teorias políticas, inclusive as mais democráticas tem notavelmente ignorado a problemática da comunicação. Todos esse debate não pode ser visto como um ataque à liberdade, mas como proteção da mesma”. (WOLTON-2007, p. 22). “Internet e Depois” conduz o leitor a um debate teórico, com o qual o autor produz uma demarcação histórica no “coração da modernidade”. Todos os eventos tecnológicos neste aspecto notadamente causam impacto. Se a internet produz o frisson da segunda metade do século XX até os primeiros anos da linha centenária que começa, rupturas importantes foram verificadas por ocasião do aparecimento do telefone, do rádio e da televisão.
Não foi diferente nos séculos anteriores com o aparecimento da imprensa e da consolidação do jornal como precursor dos meios de comunicação de massa. A especificidade das tecnologias do século XX, está relacionada com sua capacidade em transmitir som e imagem por meio físico ou por ondas magnéticas, as quais viajam no espaço e alteram nossa percepção do tempo. A difusão dos meios de comunicação de massa, nesse sentido, se combina claramente com a confirmação do sufrágio universal como recurso político capaz de consolidar o estado democrático de direito. (WOLTON-2007 p, 31).
Internet e Depois proclama um paradoxo estrutural para comunicação. Ainda que tenha funcionado como mola propulsora de avanços, sua importância não conquistou a legitimidade alcançada por outras ciências humanas e proclama que por conta dos defensores da web as mídias de massa são o alvo fácil de seus detratores e de toda a forma de manipulação. Ao passo que atravessamos um período histórico dominado pela “má comunicação”. (WOLTON-2007, p. 38). De tal maneira que ergueu-se no tecido social uma resistência coletiva em reconhecer o lugar, a importância e a emergência da teoria da comunicação, pontuada por Wolton em dez razões.
1) o mito da onipotência e da manipulação, o qual atingiu a imprensa do século XIX; 2) A dificuldade de análise em que o ponto de partida é complexidade intrínseca de se compreender a fenomenologia entre emissor, mensagem e receptor, já que a cada nova técnica surge um discurso novo para demarcar esse entrelaçamento entre os três elementos básicos da comunicação; 3) não existe uma vontade coletiva de entender essas mutações; 4) há uma idéia de onipresença da tecnologia; 5) É perceptível a resistência intelectual com relação ao surgimento das mídias generalistas, notadamente o rádio e a televisão, as quais provocaram o avanço da cultura de massa; 6) dificuldade teórica de agregar as questões de natureza psicológica, filosófica e literária, associadas comunicação clássica e os efeitos provocado nessas, pelas novas tecnologias; 7) Dificuldade de entender a impossibilidade de produção de um processo comunicacional neutro; 8) demanda fraca por conhecimento por parte do tecido social; 9) a amplitude da união das elites, dos políticos e dos jornalistas em torno das novas tecnologias; 10) A mais forte das resistências fica por conta do público, capaz de formar sua opinião e de manter sua característica de fidelidade ao processo social proporcionado pela televisão e passando por cima da análise produzida no campo das elites. (WOLTON-2007, p. 51, 52, 53).
Entusiasmado com os efeitos que a televisão pode proporcionar como sistema de comunicação de massa, finalmente Wolton lança mão de três exemplos em que a telinha opera como sistema de aglutinação, de pacificação popular e de reafirmação de democracia. Cita o papel da TV pública na África do Sul durante a retransmissão das reuniões de trabalho da comissão “verdade e conciliação”, a qual foi responsável pela pacificação popular pós-Apartheid.
Ele atribui à Rede Globo no Brasil, papel fundamental como instituição direta de democracia por seu poder de penetração. Elogia a influência das transmissões da TV italiana, as quais mobilizaram a população daquele país, por ocasião da operação mãos limpas, em que promotores de justiça numa investigação sem precedentes, conseguiram interligar a relação promíscua entre o estado italiano, o poder econômico e o crime organizado. (WOLTON-2007, p. 64).
Finalmente, ao concluir “Internet e Depois” Wolton pontua que seu objetivo com esse trabalho é diminuir a pressão exercida pelas novas tecnologias sobre a comunicação. Para tanto, define exatamente o que seja comunicação no âmbito de seu entendimento pessoal com base em seu pensamento teórico: a comunicação como ideal de expressão da sociedade ocidental é o conjunto de mídias de massa; é também o conjunto de novas tecnologias; pressupõe a existência de indivíduos livres e iguais. Finalmente, a comunicação compreende o conjunto de valores, os símbolos e as representações que organizam o espaço público. (WOLTON-2007, p. 206).
Em “É preciso salvar a comunicação”de forma resumida podemos reencontrar a vertente crítica de Wolton. Como transformar a comunicação numa ferramenta de reafirmação democrática e de ocupação igualitária do espaço público. Essa é sua primeira preocupação. Primeiro ponto: a aldeia global de Marshall McLuhan é uma realidade na dimensão sociológica de Wolton. Diante de tal afirmação, compreender a comunicação como elemento estrutural dessa atomização das relações humanas é capital. É elementar acionar os mecanismos de reafirmação democrática como variável a qual deverá conduzir o processo de reconciliação da vertente econômica e técnica da comunicação com a sua amplitude social. "Salvar a comunicação é antes de tudo preservar sua dimensão humanista". (WOLTON, Paulus-2006, p 10).
Na aldeia global a circulação crescente da informação requer a manutenção das identidades para que os cidadãos assegurem a preservação da geografia intelectual e cultural. Pensar a sociedade aberta é não apenas reconhecer a incomunicação e repensar a coabitação cultural, mas também reconhecer a necessidade de referências. Portanto significa sair do fluxo, organizar, aceitar a existência de uma incomunicação pode ser entendido como um sistema dialético no sentido de organizar e salvar a comunicação (WOLTON, Paulus-2006, p 10).
Em resumo engendra-se um ciclo de incomunicação-coabitação que não anula a comunicação. (WOLTON, Paulus-2006, p 147). Com efeito tais contradições se manifestam numa revanche da geografia. Lembremos a guerra da antiga Iugoslávia no coração da Europa, o infindável conflito entre Índia e Paquistão, ou conflitos tribais nos grandes lagos da África ou na Costa do Marfim.
Na ótica de Wolton a Teoria da Comunicação, é a relação entre informação e comunicação. Seu papel na construção do processo democrático é imprescindível. Salvar a comunicação é entender o alcance limitado das ideologias calcadas apenas na razão tecnológica, formato de debate que a globalização tomou para si a tarefa de vulgarizar. Fernando Cibelli de Castro


Referências bibliográficas
Internet e Depois: uma teoria crítica das novas mídias, (WOLTON, Dominique, 10, 12. 13, 20, 22, 31, 38, 51, 52, 53. 64, 206);
É preciso salvar a comunicação (WOLTON, Dominique, 10, 147).