domingo, 28 de junho de 2009

"Todas as notícias do rádio informativo são retóricas”

Foto: Fernando Cibelli de Castro


Klöckner em entrevista ao GEPETEC

Por Fábio Rausch – Jornalista, mestrando em Comunicação Social pela Famecos-PUCRS e membro do GEPETEC

Confiante no caráter retórico das notícias veiculadas nas rádios que classifica como informativas, o jornalista e professor da Faculdade de Comunicação Social da PUCRS, Luciano Klöckner, acredita que, inclusive, na previsão do tempo existem aspectos de convencimento. “Só o fato de informar se vai chover ou fazer sol já implica alterar a rotina do cidadão, pois ele acaba escolhendo outras roupas para vestir, por exemplo”. Na palestra promovida pelo GEPETEC, no último dia 8 de junho, na Famecos, o professor também comentou sobre as metodologias utilizadas no seu trabalho de pós-doutorado, que está em vias de concluir. Klöckner aproveitou, ainda, para estimular profissionais de veículos de comunicação a se interessarem pela pesquisa acadêmica. Citou como exemplo o olhar mais crítico que formulou com relação ao programa radiofônico “O Repórter Esso”, que o motivou a lançar o livro “O Repórter Esso – A síntese radiofônica mundial que fez história”, pela editora AGE, em 2008. Depois da sua palestra, ele concedeu esta entrevista:

Fábio Rausch – Qual é a importância de se fazer um curso de pós-graduação, no caso daqueles jornalistas que trabalham em veículos de comunicação?

Luciano Klöckner – Os profissionais de veículos demonstram muito interesse em se aprofundar em questões de pesquisa. Foi, casualmente, o que eu imaginei para mim. Trabalhei em várias emissoras de rádio: a Difusora (hoje é a Bandeirantes), a Gaúcha, a Guaíba (pouco tempo). Depois de acumular essa experiência, passou a me interessar a questão do aprofundamento da pesquisa. Primeiramente, trabalhei com o “Repórter Esso”, um dos meus objetos de pesquisa, que, depois, se transformou num grande objeto. Agora estou fazendo pós-doutorado e comparando duas rádios informativas. É uma questão que me interessa bastante. Estou analisando a presença da retórica nas notícias divulgadas. No “Repórter Esso”, analisei a questão da ideologia, da globalização, como esta notícia era praticada no Brasil. Ela começou nos Estados Unidos, com o formato atual do lead. É a notícia com sujeito, verbo e complemento. Hoje, eu procuro estudar, um pouco mais, o conteúdo, ou seja, se essa notícia, de alguma maneira, exerce todo o potencial retórico, que é, justamente, a questão da persuasão e do convencimento. Desse modo, tento alcançar avanços em relação aos estudos já realizados com o “Repórter Esso”.

Rausch – Dos resultados que você alcançou, quais podem contribuir para quem estuda, especificamente, o rádio, tanto na graduação quanto na pós-graduação?

Klöckner – No caso do “Repórter Esso”, lancei um livro de reinterpretações, cujo trabalho foi facilitado pela metodologia da hermenêutica de profundidade, que indica as formas de se reinterpretar um objeto. Neste caso, havia a idéia inicial baseada no fato de todo mundo achar o “Repórter Esso” o máximo. Esse noticiário nunca foi questionado. Eu também sempre me baseava naquele ícone do programa. Por isso, fiz uma reinterpretação das notícias veiculadas na época, tendo comparações teóricas e metodológicas. No caso de agora, da retórica propriamente dita, estou utilizando um quadro metodológico criado por mim, para aplicar nessas notícias e tentar ver quais apresentam a retórica. Tenho notado que, no caso das rádios informativas, que são referência para a informação, o entretenimento é eventual. A CBN não toca música, mas a TSF, de Portugal, sim. As duas fazem esporte. Ou seja, acabam realizando entretenimento. Não é notícia pura, se levarmos em conta a forma definida e convencionada pelo Juarez Bahia e pelo Nelson Traquina. Então, dentro do rádio informativo, vejo que todas as espécies de notícias dos programas são retóricas. Elas procuram convencer de alguma maneira. Essas são as primeiras conclusões do trabalho em andamento, que já está em fase de redação final.

Rausch – Você destacou, ao longo da sua palestra, que, às vezes, uma questão banal como a previsão do tempo já apresenta, mesmo que implicitamente, algum fator retórico de persuasão e convencimento. Como se dá a percepção dessas minúcias, que, muitas vezes, na publicidade, são classificadas de acordo com critérios de linguagem subliminar?

Klöckner – É justamente isso. O professor Eduardo Meditsch me ajudou muito nesse trabalho, porque, inclusive, me serviu como base a pesquisa que ele realizou em Portugal, anos atrás, usando, também, a TSF. No meu caso, foi uma pura coincidência, porque eu quase optei por outra emissora de rádio. Mas essa questão do conteúdo, muitas vezes, é como tu disseste. Às vezes, a gente não percebe mesmo. No quadro metodológico, existem níveis, com escalas. Neste caso, preferi utilizar um conceito, um grau de medição. Eu mesmo criei este método, que faz a medição do conteúdo retórico da seguinte forma: fraco; nem fraco nem forte; e muito forte. Nos primeiros testes, a metodologia funcionou bem. No futuro, talvez, poderão ser necessárias algumas adaptações nas escalas que eu determinei e nos estudos, porque a retórica não é estudada em um ano ou dois. Pelo contrário, faz-se necessário estudá-la bastante, para conseguir uma boa compreensão.

Rausch – Qual é o mérito das diferenças entre a rádio que você considerou como sendo essencialmente informativa e as de talking news?

Klöckner – A rádio talking news é a que apresenta muitas notícias e entrevistas. Se tu fores comparar a Rádio Gaúcha com a CBN, no perfil de emissoras como a última, tu vais notar blocos muito definidos: a cada 15 minutos ou a cada meia hora, a programação se repete, em rodízio informações. Há situação do trânsito, previsão do tempo, pequena entrevista, o repórter dando uma informação. Então, essa programação acontece em fluxo contínuo. Dessa forma, o ouvinte pensa: “Que sorte! Peguei a previsão do tempo justamente quando eu queria”. Mas não é coincidência. Faz parte da programação essa linha repetitiva. Em alguns horários, o rodízio informativo chega a ser ainda mais rápido. Sabendo desses detalhes, as rádios de referência informativa fazem trabalhos assim com muita freqüência.

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